O espetáculo da Reserva Federal dos EUA está cada vez mais interessante. O Deutsche Bank lançou recentemente uma previsão arrojada: depois do mandato do presidente Powell terminar em maio de 2026, ele pode não sair de cena por completo, continuando como membro do conselho de governadores do Comité Federal de Mercado Aberto.

Isto pode soar estranho, mas é perfeitamente legal. O mandato de Powell como governador só termina em janeiro de 2028, e os estatutos da Fed nunca estipularam que um presidente, ao deixar o cargo, tenha de abandonar também o conselho. Vendo o passado, foi exatamente isso que o presidente Eccles fez no seu segundo mandato — depois de deixar a presidência, permaneceu no conselho para salvaguardar a independência da Fed e evitar interferências da Casa Branca.

O contexto atual é delicado. Toda a gente viu a postura de Trump face a Powell nos últimos anos: exigências públicas para baixar as taxas, ameaças de demissão — nada de novo. Se o próximo presidente da Fed for alguém “obediente”, é bem provável que Powell decida ficar. Não esquecer: os membros do conselho têm direito de voto no FOMC — não é um cargo decorativo.

A questão é se o mercado aceitará tal arranjo. A secretária do Tesouro dos EUA já avisou que a permanência de um ex-presidente no conselho pode criar confusão. Imagine-se: o novo presidente faz uma declaração de política, mas o antigo vota contra — a quem dará ouvidos o mercado? Este tipo de sinais contraditórios pode enlouquecer os traders.

O que significa isto para o mercado cripto?

Primeiro, a incerteza vai aumentar significativamente. Se houver divisões claras dentro da Fed, o rumo da política monetária torna-se mais imprevisível e a volatilidade de curto prazo é quase garantida.

Depois, se Powell realmente permanecer no conselho, é provável que atue como contrapeso a políticas mais agressivas. Portanto, quem espera que o novo presidente comece logo a injetar liquidez pode ter de moderar as expectativas. O dólar também poderá não enfraquecer tanto quanto alguns antecipam.

O mais importante: as expectativas de liquidez ficarão ainda mais complexas. Não só teremos de analisar a postura do novo presidente, como também tentar adivinhar como o “presidente-sombra” votará em momentos-chave.

A Fed de 2026 pode já não ser comandada por uma só pessoa. Este jogo de poder talvez mereça mais atenção do que o próprio calendário de cortes das taxas.