Queda de 35% no Bitcoin em 46 dias: A bolha da IA, fuga de capitais dos ETFs e a indecisão da Reserva Federal dos EUA

O Bitcoin levou uma queda forte recentemente. No início de outubro atingiu um novo máximo histórico e, em apenas 46 dias, teve uma correção máxima superior a 35%. Ontem quase quebrou a linha dos 80 mil dólares, mas felizmente hoje recuperou um pouco e voltou para perto dos 85 mil. Todo o mercado cripto acompanhou esta queda contínua, com perdas severas por toda a parte.

Por trás desta queda há alguns grandes problemas. Primeiro, a polémica da bolha da IA explodiu de vez — o mercado começou a questionar se as contas a receber altíssimas da Nvidia seriam mesmo recuperáveis, já que a taxa de conversão em dinheiro é inferior à dos concorrentes. Para piorar, várias empresas de IA foram acusadas de reutilizar fundos e de contabilizar receitas repetidas vezes em algumas transações. As instituições de investimento começaram a vender ações da Nvidia, o que pressionou as bolsas americanas durante bastante tempo. Contudo, ontem à noite, membros da Fed vieram publicamente apoiar a IA e o CEO da Nvidia também esclareceu a situação, permitindo alguma recuperação nas bolsas.

Olhando para os ETFs, o IBIT da BlackRock registou uma saída líquida recorde de 523 milhões de dólares num único dia, a 19 de outubro. No mês inteiro, o saldo líquido foi superior a 2,5 mil milhões em saídas, com a capitalização de mercado a cair de forma inédita em dias consecutivos de negociação. Analistas dizem que a principal razão é que os investidores de retalho americanos estão a vender ETFs de Bitcoin e Ethereum à vista, atingindo em cheio os participantes originais do universo cripto.

A nível macro, o cenário está ainda mais confuso. O governo dos EUA acabou de sair do mais longo shutdown da história, com 43 dias de paragem durante os quais vários dados económicos e de emprego importantes deixaram de ser publicados. Assim que saíram os dados de emprego não agrícola de setembro, houve um aumento inesperado de 119 mil postos de trabalho, levando imediatamente os membros mais hawkish da Fed a temer um regresso da inflação. A probabilidade de descida das taxas de juro em dezembro caiu de 70% para 30% num mês, com alguns traders a apostar mesmo que não haveria descida. Hoje de madrugada, vários membros da Fed mudaram de tom e voltaram a sugerir cortes, fazendo disparar a probabilidade de descida para 71,3%, o que levou o mercado a voltar a apostar nesse cenário.

Esgotamento de liquidez, ausência de dados e políticas instáveis — a combinação destes fatores explica bem a queda do Bitcoin. Agora resta ver qual será o próximo passo da Fed.