Recentemente, as expectativas em torno da política monetária dos EUA, as novas orientações regulatórias do governo, os dados macroeconómicos e as ações de fiscalização têm, em conjunto, liderado a forte volatilidade do preço do Bitcoin, intensificando a luta entre touros e ursos, com o curto prazo a apresentar um cenário de “expectativas de flexibilização a dar suporte, incerteza política a exercer pressão”, numa influência bidirecional.

I. Política Monetária: Expectativas de Cortes nas Taxas como Suporte Principal, Oscilação Política Amplia Volatilidade

A viragem da política monetária da Reserva Federal é o principal fator macroeconómico a influenciar a trajetória do Bitcoin, com expectativas de flexibilização e sinais contraditórios a dominar alternadamente o sentimento do mercado:

1. Expectativa de corte nas taxas impulsiona recuperação: Em novembro, o emprego ADP nos EUA registou uma inesperada diminuição de 32 mil postos de trabalho (maior queda desde março de 2023), aumentando as preocupações com o abrandamento económico. A probabilidade de um corte de 25 pontos base pela Fed em dezembro disparou para 89%, as expectativas de flexibilização reduziram o custo de detenção de ativos sem rendimento, impulsionando o Bitcoin do patamar dos 85.000 dólares, no início de dezembro, para perto dos 93.000 dólares num movimento em V.
2. Sinais contraditórios da política originam volatilidade: Alguns membros da Fed sugeriram a necessidade de reavaliar os riscos de inflação, com declarações ambíguas em termos de política. Somando-se ao fim planeado do aperto quantitativo (QT) no final do ano, que é favorável à liquidez, o preço do Bitcoin sofreu verdadeiros “andares de montanha-russa” a curto prazo, com várias oscilações diárias superiores a 4% em dezembro. As liquidações forçadas de posições alavancadas tornaram-se frequentes, com valores de liquidação a 24 horas a ultrapassar os mil milhões de dólares no pico.

II. Política Regulamentar: Avanço da Conformidade e Incerteza de Novas Políticas com Impacto Bidirecional

A dinâmica da regulação das criptomoedas nos EUA afeta o mercado tanto na vertente do “acesso claro” como dos “riscos futuros”, coexistindo pânico de curto prazo com benefícios de longo prazo:

1. Progresso na conformidade atrai instituições: A aprovação anterior do “GENIUS Act” nos EUA e a autorização da SEC para ETF de Bitcoin à vista resolveram questões nucleares como custódia e compliance, impulsionando uma entrada massiva de capitais institucionais e consolidando o estatuto do Bitcoin como um ativo legal, tornando-se um dos principais pilares da valorização na segunda metade do ano. Simultaneamente, a SEC transferiu formalmente a competência regulatória do Bitcoin para a CFTC e eliminou o plano de revisão das criptomoedas para 2026, reduzindo a incerteza regulatória de longo prazo e atraindo capitais institucionais como fundos de pensões e hedge funds.
2. Rumores de nova regulação governamental desencadeiam vendas: Com a posse do novo governo Trump em janeiro a aproximar-se, circulam no mercado rumores de que o novo executivo irá apertar as regras de combate ao branqueamento de capitais (AML) e reavaliar os critérios de emissão de stablecoins. As instituições, receando o aumento dos custos de detenção, optaram por vender antecipadamente para se protegerem, levando o Bitcoin a cair abaixo dos 85.000 dólares a 8 de dezembro, a maior queda diária desde meados de novembro.

III. Dados Macroeconómicos: Emprego e Crescimento Acentuam Sensibilidade do Mercado

Os principais indicadores macroeconómicos dos EUA têm mostrado fraqueza, reforçando tanto as expectativas de flexibilização como as preocupações com a desaceleração económica, influenciando indiretamente a avaliação do Bitcoin como ativo de risco:

1. Dados de emprego fracos beneficiam ativos de risco: A queda do emprego ADP em novembro e o desmoronar do índice de confiança dos consumidores confirmam o arrefecimento do mercado de trabalho, reforçando a lógica de cortes nas taxas pela Fed e promovendo a rotação de capitais do dólar e obrigações para ativos de risco como o Bitcoin, sendo este um motor direto da recuperação dos preços.
2. Revisão em baixa do crescimento económico desperta procura por refúgios: A OCDE reviu em baixa a estimativa de crescimento dos EUA para 2026 de 2,0% para 1,7%, com a previsão global a cair para 2,9%. Aliado à incerteza sobre as tarifas norte-americanas, o mercado ficou mais caótico e alguns investidores optaram por sair de ativos de risco elevado, desencadeando uma queda de 6,2% num só dia no início de dezembro, evaporando 230 mil milhões de dólares em capitalização.

IV. Ações de Fiscalização: Impacto Negativo de Curto Prazo, Impulso à Conformidade a Longo Prazo

As ações de fiscalização do Departamento de Justiça dos EUA sobre criptomoedas minam a confiança do mercado no curto prazo, mas beneficiam o desenvolvimento regulado do setor a longo prazo, apresentando um impacto “negativo no curto prazo, neutro a positivo no longo prazo”:

1. Curto prazo enfraquece confiança do mercado: O Departamento de Justiça dos EUA realizou a maior apreensão de Bitcoin da história, tornando-se um dos maiores detentores individuais do mundo, com mais de 320 mil moedas. A capacidade das autoridades de descodificar chaves privadas quebrou a perceção de “descentralização” e “segurança absoluta das chaves” do Bitcoin, levando a uma forte queda de preços no final de novembro e a uma saída líquida diária de mais de 870 milhões de dólares dos ETFs.
2. Longo prazo reforça atributos de conformidade: As ações de fiscalização confirmam a rastreabilidade da blockchain do Bitcoin, provando que as criptomoedas não estão acima da lei, reduzindo as preocupações de entrada de instituições reguladas. Os dados mostram que atualmente já existem 152 empresas cotadas a deter Bitcoin, com as instituições a representarem 99,5% do volume transacionado, acelerando o avanço da conformidade do setor.

Em resumo, o Bitcoin está atualmente extremamente exposto às notícias vindas dos EUA. No curto prazo, é essencial acompanhar a decisão da Fed sobre as taxas em dezembro (corte efetivo ou não e tom do comunicado), enquanto no longo prazo o foco estará nos detalhes regulatórios do novo governo e no fluxo contínuo de capitais institucionais. O preço deverá manter-se num regime de elevada volatilidade, com os sinais políticos e mudanças de liquidez a serem a principal lógica de avaliação.
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