Lembre-se do fim de 2024, quando o mercado estava focado em prever quais ativos se destacariam em 2025.
Investidores de ações analisavam o S&P 500 e as ações classe A chinesas, enquanto a comunidade cripto apostava suas fichas no Bitcoin.
Se alguém tivesse dito, naquela época, que o ativo com melhor desempenho em 2025 não seria o Bitcoin nem as ações, mas sim o ouro — pouco valorizado pela geração Z — dificilmente alguém levaria a sério.
Mas a realidade mostrou-se surpreendente.
Nos últimos cinco anos, o Bitcoin superou o ouro com uma apreciação superior a 1.000%, quase dez vezes mais, liderando os rankings de ativos ano após ano. Porém, ao entrar em 2025, o cenário mudou: desde janeiro, o ouro acumula alta acima de 50%, enquanto o Bitcoin subiu apenas 15%.
Quem entrou cedo no ouro está colhendo resultados, enquanto os principais traders de criptomoedas permanecem em silêncio.
Além disso, ouro e Bitcoin parecem operar em universos paralelos: quando o ouro sobe, o Bitcoin cai; quando o Bitcoin cai, o ouro dispara.
Em 21 de outubro, o ouro sofreu queda brusca de 5% em um único dia, enquanto o Bitcoin, renovado, iniciou uma recuperação.
Por que o Bitcoin, antes considerado “ouro digital”, perdeu sua correlação com o ouro físico?
Quem liderou as compras de ouro em 2025? Não foram investidores individuais, nem grandes instituições, mas sim os bancos centrais ao redor do mundo.
Os dados confirmam: em 2024, bancos centrais de diversos países adquiriram, líquidos, 1.045 toneladas de ouro, ultrapassando a marca de 1.000 toneladas pelo terceiro ano consecutivo.
Segundo dados do segundo trimestre de 2025 do Conselho Mundial do Ouro, a Polônia aumentou as reservas em 18,66 toneladas de uma só vez, o Cazaquistão veio em seguida com 15,65 toneladas, e o banco central da China adicionou de forma constante 6,22 toneladas…

Por que os países emergentes estão ampliando suas reservas de ouro?
Ao comparar as proporções das reservas de ouro entre bancos centrais, vemos que países desenvolvidos e emergentes atuam em realidades distintas.
Os Estados Unidos possuem 77,85% de suas reservas em ouro, totalizando 8.133 toneladas — bem à frente da Alemanha, segunda colocada, com 3.350 toneladas, seguida por Itália e França, com 2.452 e 2.437 toneladas.
O banco central da China tem apenas 6,7% de suas reservas em ouro, embora o montante absoluto já tenha atingido 2.299 toneladas e siga crescendo.

A diferença é significativa: mercados emergentes têm amplo espaço para aumentar reservas. Em grandes economias como a China, a proporção do ouro é inferior a 7%, enquanto a maioria dos países desenvolvidos supera 70%. Trata-se de uma corrida para equiparar: quanto maior a distância, maior o esforço.
Curiosamente, a participação dos bancos centrais na demanda global por ouro saltou de menos de 10% nos anos 2000 para 20% atualmente, sustentando os preços do metal.
O que motivou essa corrida ao ouro pelos bancos centrais? Instabilidade global e dúvidas sobre a solidez do dólar.
Conflito Rússia-Ucrânia, tensões no Oriente Médio, disputas comerciais entre EUA e China — o mundo nunca esteve tão fragmentado.
O dólar sempre foi reserva central e refúgio dos bancos centrais. Agora, com a dívida dos EUA atingindo US$36 trilhões — 124% do PIB — incertezas políticas sob Trump, conflitos externos e turbulências internas, a confiança diminuiu.
Especialmente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, quando os EUA passaram a congelar reservas estrangeiras à vontade, os países perceberam: só o ouro guardado em cofres próprios representa riqueza soberana real.
O ouro não gera renda, mas também não desaparece por decisões alheias de política financeira.
Para pessoas e países, o ouro é proteção — quanto maior o caos, maior o interesse. Assim, quando surge a notícia de “possível fim da guerra Rússia-Ucrânia”, não surpreende a queda abrupta do ouro.
Em 2025, o Bitcoin tornou-se um ativo desconfortável. Sua narrativa era “ouro digital”, mas hoje se assemelha mais a um ativo digital similar à Tesla.
Dados do Standard Chartered apontam que a correlação do Bitcoin com o Nasdaq está em 0,5 — no início do ano, era 0,8. Com o ouro, a correlação é de apenas 0,2, chegando a zero em certos momentos.
Ou seja: o Bitcoin se comporta como as ações de tecnologia. Se o Nasdaq sobe, o Bitcoin acompanha; se o Nasdaq cai, o Bitcoin recua.
Essa mudança tem explicação.
Durante o governo Trump, os EUA passaram de considerar o Bitcoin uma “seita ilegal” para integrá-lo ao sistema. A aprovação dos ETF de Bitcoin spot em 2024 marcou a entrada formal da criptomoeda no universo do dólar.
Isso deveria reforçar a legitimidade do Bitcoin. Porém, ao entrar no sistema, torna-se difícil resistir à sua influência.
O diferencial original do Bitcoin era ser rebelde — não controlado por governos ou bancos centrais.
Agora, grandes instituições de Wall Street como a BlackRock lideram as compras. O preço do Bitcoin depende das decisões do Banco Central dos EUA (Federal Reserve) e de Trump, e traders de criptomoedas acompanham discursos de Powell e Trump, agindo como analistas de macroeconomia focados no dólar.
No cenário global, o Bitcoin ainda busca reconhecimento amplo, enquanto o ouro permanece favorito entre gerações.
O número de mulheres chinesas que possuem jóias de ouro provavelmente é maior que o total de possuidores de Bitcoin no mundo.
Em relação ao ouro, o Bitcoin é jovem e ainda tem muito a evoluir para atingir a adoção em massa.
Enquanto muitos veem ouro e Bitcoin como alternativas excludentes, investidores experientes sabem equilibrar ambos.
Os bancos centrais seguem comprando ouro e os preços continuam em alta, mas esse ciclo não é eterno. Com o ouro atingindo preços elevados, surgem desafios práticos de armazenagem, transporte e entrega — onde o Bitcoin se destaca.
Em cenários de guerra, quem possui muito ouro percebe que ele é pesado e chamativo — difícil de transportar. Nessas horas, o Bitcoin guardado em armazenamento frio se torna a solução ideal, como já ocorreu na Rússia.
Em resumo, o ouro representa valor armazenado de forma volumosa; o Bitcoin, valor armazenado de forma leve.
Se o ouro alcançar preços extremos, o capital buscará alternativas com atributos semelhantes e custos menores. Nessa conjuntura, o Bitcoin pode se libertar da influência do dólar e de Trump, atrair o excedente de capital do ouro, e retomar sua narrativa de “ouro digital”.
Bitcoin e ouro não se substituem — eles evoluem e sucedem um ao outro.
O ouro é a memória da riqueza da civilização humana; o Bitcoin é a visão de riqueza para o futuro digital.
Li Dama, investidora de jóias de ouro aos setenta anos, e Li Xiaoming, programador de vinte e cinco anos acumulador de Bitcoin, representam visões distintas de um futuro mais próspero.





