Resumo: O episódio ocorrido no Nepal marca apenas o início de uma nova era.
A Geração Z ao redor do mundo agora dispõe de ferramentas descentralizadas – Discord, criptoativos e memes.
O período de instabilidade política tende a ultrapassar fronteiras com uma velocidade inédita.
O movimento pacífico iniciado pela juventude da Geração Z nepalesa contra nepotismo, corrupção, desigualdade de renda e a proibição de redes sociais tornou-se violento após o governo tomar a equivocada decisão de disparar contra manifestantes pacíficos. Dezenove jovens da Geração Z foram mortos e 400 ficaram feridos nesse ato de autoritarismo policial sob ordens do governo. O impacto desse episódio foi sentido intensamente por toda a população.
Através dos canais do Discord, a mensagem se espalhou rapidamente, mobilizando jovens em diferentes cidades em questão de minutos. O parlamento, a infraestrutura pública e as residências de políticos foram incendiadas pelos manifestantes. A indignação tomou conta do país e forçou o recuo do governo em menos de 24 horas. O primeiro-ministro Oli renunciou e a Geração Z nepalesa saiu vitoriosa, sem qualquer apoio da oposição. A luta foi contra todo o sistema político vigente, resultado da energia jovem em estado puro.
Esses jovens coordenaram toda a mobilização de maneira descentralizada pelo Discord, enquanto outras redes sociais permaneciam bloqueadas. Utilizaram criptoativos para transações em meio ao bloqueio bancário. Conduziram o protesto sem liderança centralizada, estabelecendo um exemplo global a ser seguido.
O caráter descentralizado desse protesto foi histórico. Diferentemente dos movimentos tradicionais, geralmente dependentes de líderes carismáticos ou partidos políticos, a Geração Z do Nepal provou que a tecnologia é capaz de eliminar hierarquias e permitir que milhares de pessoas atuem de forma sincronizada, sem comando central.
créditos: https://x.com/rachinkalakheti/status/1966314602251301138
Cada servidor no Discord se transformou em um verdadeiro centro de comando, com informações fluindo livremente, estratégias desenvolvidas coletivamente e decisões tomadas em grupo. A liderança distribuída impediu tentativas de silenciamento ou cooptação. Mesmo com canais bloqueados ou com organizadores presos, o movimento se regenerava constantemente. Esse é o verdadeiro poder da descentralização: pertence a todos, mas não é propriedade de ninguém.
O modus operandi dos políticos nepaleses ao desviar recursos públicos para interesses próprios é um padrão observado mundialmente. Diversos jornalistas corajosos já denunciaram esquemas similares. Porém, em democracias, a corrupção costuma operar de maneira mais sutil e perversa do que sob regimes abertamente autoritários.
Da Ásia do Sul à América Latina e África, as elites políticas acumulam riqueza ao longo de gerações por meio de contratos obscuros, propinas, monopólios e nepotismo. Recursos destinados ao interesse público são desviados para fortunas privadas, enquanto a população fica relegada ao mínimo. Mesmo sabendo desse cenário, muitos cidadãos evitam o confronto, já que o sistema transforma a exploração em algo “normal”.
A Geração Z do Nepal rompeu com essa passividade. Eles provaram que é possível escancarar a corrupção e exigir transparência, mesmo que isso implique destruir os símbolos do velho poder.
Esse protesto também mostrou como mobilizações massivas podem ser orquestradas em tempo recorde com o uso inteligente de tendências e campanhas nas redes sociais. Hashtags transformaram-se em chamados à ação, memes viraram armas políticas e atualizações ao vivo serviram tanto de orientação estratégica quanto de incentivo moral.
Em poucas horas, o que era considerado mera “insatisfação juvenil online” tornou-se uma insurreição de rua coordenada. Possivelmente, iniciativas semelhantes já estejam surgindo em outros países. Nem todas chegarão ao patamar observado no Nepal, mas algumas certamente terão impacto. Não me surpreenderia se, nos próximos três anos, protestos similares àqueles liderados pela Geração Z acontecessem na Índia. O sucesso ou não dessas tentativas é outra questão, mas os movimentos começarão.
O papel dos criptoativos em protestos deve se ampliar, inaugurando uma era de turbulência política global. Estados detêm o controle sobre o dinheiro e podem restringir seu fluxo, mas a população encontra nas criptomoedas uma maneira de superar essas barreiras.
Recursos financeiros são o sustentáculo de todo movimento – sem financiamento, protestos esmorecem. Os métodos tradicionais dependem de ONGs, partidos ou doadores estrangeiros, todos suscetíveis a bloqueios. Criptoativos oferecem um caminho alternativo: ágil, resistente à censura e transfronteiriço.
Ao lançar um protesto nacional com manifesto claro, uma equipe pode até criar um meme coin. Esse token não serve apenas para arrecadação, mas se torna um símbolo cultural. Cada negociação representa um microvoto de confiança; cada valorização, um sinal da energia coletiva. A compra do token impulsiona o movimento nas redes sociais, ampliando visibilidade, volume de negociação e potencial de valorização.
O grupo organizador pode seguir fornecendo atualizações em tempo real, que atuam como catalisadores para o preço do token. Imagine alguém em Nova York, Berlim ou Tóquio acompanhando protestos ao vivo enquanto detém um meme coin vinculado ao movimento – fusão de engajamento emocional e financeiro. Sem recursos, manifestações não se mantêm; meme coins podem ser a solução mais inovadora para unir financiamento e engajamento.
Até mesmo no Nepal, o protesto teve origem no descontentamento diante da disparidade de renda frente aos filhos da elite. O dinheiro exerceu o papel de motivador silencioso, o motor escondido por trás da insurreição. As pessoas desejam conforto, segurança e melhores condições de vida – e foi por isso que lutaram.
Entretanto, será que a mobilização no Nepal solucionou esses impasses? É improvável. Num primeiro momento, pode surgir a sensação de esperança, mas a verdadeira criação de oportunidades depende de habilidade, planejamento, estratégia e coragem excepcionais – desafios que a Geração Z ainda terá de enfrentar.
Ainda assim, se a cripto avançar no país e transformar a economia do turismo, será possível criar novas formas de renda. Com serviços turísticos ofertados em formato peer-to-peer, intermediários seriam eliminados, permitindo ganhos diretos e redução de custos entre 10% e 50% em taxas e perdas por corrupção. A população envolvida nesse novo modelo econômico poderá colher benefícios reais.
O que ocorreu no Nepal não é fato isolado. Trata-se do prelúdio de uma era de mobilizações em que os jovens ascendem por meio de sistemas descentralizados, infraestrutura cripto e economias peer-to-peer, dispensando os canais tradicionais.
Nos próximos cinco anos, diversos protestos semelhantes deverão acontecer ao redor do mundo. Alguns fracassarão, mas outros impactarão profundamente governos inteiros. E, em muitos deles, a cripto será combustível invisível – promovendo financiamentos, mantendo canais alternativos de comunicação e fomentando economias paralelas quando os canais oficiais forem bloqueados. Soluções peer-to-peer serão armas de resistência, não apenas alternativas funcionais.
A Geração Z do Nepal demonstrou para o mundo o potencial da coragem, da coordenação e da tecnologia em transformar a história em poucas horas.
A grande questão é: qual país será o próximo?